ATA DA PRIMEIRA REUNIÃO ORDINÁRIA DA TERCEIRA COMISSÃO REPRESENTATIVA DA DÉCIMA TERCEIRA LEGISLATURA, EM 09-01-2003.

 


Aos nove dias do mês de janeiro de dois mil e três, reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Comissão Representativa da Câmara Municipal de Porto Alegre. Às nove horas e trinta minutos, foi efetuada a chamada, sendo respondida pelos Vereadores Carlos Alberto Garcia, Elói Guimarães, Haroldo de Souza, João Antonio Dib, Maria Celeste e Zé Valdir, Titulares. Ainda, durante a Reunião, compareceram os Vereadores Isaac Ainhorn, Raul Carrion, Reginaldo Pujol e Sebastião Melo, Titulares, e Maristela Maffei, Não-Titular. Constatada a existência de quórum, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos. À MESA, foi encaminhado, pelo Vereador Luiz Braz, 01 Pedido de Providências. Do EXPEDIENTE, constaram: Ofícios nºs 759/02, do Senhor Prefeito Municipal de Porto Alegre; 2290/02, do Senhor Rinaldo Junqueira de Barros, Secretário de Apoio Rural e Cooperativismo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; 10659787, 10660543, 10660425, 10659995, 10659550, 10660561, 10660669, 10660281, 10660109, 10660153, 10660354, 10660350 e 10660163/02, todos do Senhor Sady Carnot Falcão Filho, Diretor-Executivo do Fundo Nacional de Saúde do Ministério da Saúde. A seguir, o Senhor Presidente prestou esclarecimentos sobre os trabalhos da presente Sessão. Em COMUNICAÇÕES, o Vereador Zé Valdir referiu-se à divulgação, pela imprensa local, de dados estatísticos referentes à ocorrência de mortes por acidentes de trânsito no Rio Grande do Sul e apontou o aumento desses índices, considerando o período de dois mil e dois em comparação a dois mil e um. Relativamente ao assunto, teceu críticas às manifestações, havidas durante o ano passado, contrárias ao uso dos controladores eletrônicos de velocidade conhecidos por “pardais”. O Vereador Raul Carrion pronunciou-se acerca do Projeto de Lei do Executivo nº 079/02 (Processo nº 3685/02), destacando a importância dessa matéria para a criação de políticas voltadas à urbanização. Nesse sentido, elogiou a iniciativa do Executivo Municipal em propor mecanismos que estimulem pequenos empresários da construção civil a implantarem loteamentos, devidamente regularizados, destinados a famílias de baixa renda. A Vereadora Maria Celeste discorreu sobre o início da vigência do novo Código Civil Brasileiro, a ocorrer em onze de janeiro do corrente, tecendo considerações sobre os reflexos dessa legislação para a sociedade brasileira e enfatizando a necessidade da sua ampla divulgação. Também, reportou-se ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, saudando seus vinte e um novos conselheiros, empossados em cerimônia realizada no dia sete de janeiro do corrente, nas dependências do Palácio Aloísio Filho. O Vereador João Carlos Nedel relatou visitas realizadas por Sua Excelência a diversos locais de Porto Alegre onde há concentrações de moradores de rua e sugeriu a criação, pela Prefeitura Municipal de Porto Alegre, de albergue destinado a acolher essas pessoas. Nesse aspecto, atribuiu parte do problema à falta de políticas específicas para a habitação popular e afirmou haver uma carência de moradias que chega ao patamar de setenta mil unidades. Após, o Senhor Presidente prestou informações sobre Parecer exarado pela Procuradoria da Casa, alusivo à republicação, no Diário Oficial de Porto Alegre, do Decreto nº 14.032/02, do Senhor Prefeito Municipal de Porto Alegre. Em COMUNICAÇÕES, o Vereador Isaac Ainhorn teceu considerações sobre a Comissão Representativa e sua função institucional de dar seguimento, durante o recesso parlamentar, a diversos assuntos afetos ao Poder Legislativo Municipal. Também, mencionou o reajuste de cerca de vinte e cinco por cento nos valores do Imposto Predial e Territorial Urbano - IPTU - e afirmou ser inoportuna a reavaliação, no corrente ano, da Planta de Valores que informa o seu cálculo. Em COMUNICAÇÃO DE LÍDER, o Vereador Isaac Ainhorn deu continuidade ao seu pronunciamento em Comunicações, manifestando-se sobre o crescimento no número de vítimas fatais por acidentes de trânsito em dois mil e dois, no Rio Grande do Sul. Também, referiu-se aos equipamentos eletrônicos de controle de velocidade em uso nas estradas gaúchas e argumentou ser a sinalização e o estado de conservação fatores importantes para a segurança nas rodovias. EM COMUNICAÇÕES, o Vereador Elói Guimarães comentou notícias veiculadas na imprensa nacional, relativas à possibilidade de suspensão de obras previstas para duplicação da Rodovia Federal BR-101, no trecho localizado entre os Municípios de Palhoça, no Estado de Santa Catarina, e Osório, no Estado do Rio Grande do Sul. Ainda, afirmou que as conseqüências da não-duplicação dessa rodovia seriam prejudiciais para o desenvolvimento econômico da Região Sul do País. O Vereador Carlos Alberto Garcia, reportando-se ao discurso proferido por Sua Excelência durante a Reunião de Instalação da Terceira Comissão Representativa, ocorrida ontem, comentou matérias publicadas nos jornais de hoje, relativas à discrepância nos preços da gasolina que vêm sendo praticados nas revendedoras da capital e das cidades litorâneas. Ainda, registrou o falecimento do Senhor Sady Machado da Silva, Bispo da Igreja Metodista. Na oportunidade, por solicitação do Vereador Carlos Alberto Garcia, foi realizado um minuto de silêncio em homenagem póstuma ao Senhor Sady Machado da Silva, falecido no dia sete de janeiro do corrente. Em COMUNICAÇÕES, o Vereador Reginaldo Pujol, refletindo sobre a expectativa da população em torno dos Governos a serem exercidos pelos recém-empossados Presidente da República e Governadores de Estado, augurou-lhes sucesso nessa tarefa. Também, externou preocupações quanto à possibilidade de suspensão das obras previstas para a duplicação da Rodovia Federal BR-101, no trecho localizado entre os Municípios de Palhoça, no Estado de Santa Catarina, e Osório, no Estado do Rio Grande do Sul. O Vereador Sebastião Melo, asseverando a necessidade de que as informações referentes aos resultados da atuação dos Governos sejam democratizadas e apregoadas, prestou informações acerca das condições financeiras em que se encontra o Estado do Rio Grande do Sul. Nesse sentido, denunciou a antecipação de receitas tributárias determinada pelo Governo Estadual anterior e os prováveis problemas que essa medida acarretará para o trabalho do Senhor Germano Rigotto, Governador do Estado do Rio Grande do Sul. Às onze horas e quinze minutos, constatada a inexistência de quórum, o Senhor Presidente declarou encerrados os trabalhos, convocando os Senhores Vereadores para a Reunião Ordinária da próxima quarta-feira, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador João Antonio Dib e secretariados pela Vereadora Maria Celeste. Do que eu, Maria Celeste, 1ª Secretária, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada por mim e pelo Senhor Presidente.

 

 


O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Conforme definido ontem, iniciaremos pelas Comunicações.

Passamos às

 

COMUNICAÇÕES

 

O Ver. Zé Valdir está com a palavra em Comunicações.

 

O SR. ZÉ VALDIR: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, o jornal Zero Hora vem, nos últimos tempos, publicando uma série de matérias relativas ao aumento do número de mortes no trânsito, quase que uma posição autocrítica em relação a uma série de matérias do ano passado, dando guarida àquelas teses de flexibilização da legislação. Agora, com uma posição quase que de autocrítica, o jornal Zero Hora faz reportagens extremamente educativas como essa, alertando para o aumento do número de mortos nas rodovias gaúchas. No ano de 2002, nós tivemos um aumento de 7,3% de mortes nas estradas gaúchas e um aumento também do número de feridos.

Hoje, os dados, as estatísticas da Polícia Rodoviária Federal e da Polícia Rodoviária Estadual indicam que morreram, em 2002, setecentas e quarenta e seis pessoas e ficaram feridas dez mil pessoas no Rio Grande do Sul.

Esse aumento do número de mortos e feridos nessa guerra do trânsito é um assunto, evidentemente, muito complexo e que, a respeito do qual, se podem indicar diversas causas. Mas é muita coincidência que exatamente no ano de 2002, quando se disseminou por todo o Estado toda uma série de avaliações, de discursos, de iniciativas parlamentares é que se preocuparam em denunciar a chamada fúria arrecadatória, inclusive cunharam a expressão “pardal faturador” e, por trás disso, estava toda uma pressão no sentido de flexibilizar o rigor do novo Código de Trânsito, o que, aliás, foi uma conquista, que tornou as multas mais rigorosas; foi uma conquista da sociedade, que clamava há muito tempo por isso.

Pois, no ano passado, com uma série de iniciativas nos parlamentos municipais, na Assembléia Legislativa e aqui nesta Câmara, com o discurso do “pardal faturador”, na verdade, se fez um desserviço. Na verdade, se fez uma campanha muito deseducativa e muito irresponsável em relação a esta matéria, que levou a uma desmoralização do novo Código. E a conseqüência está aí, o número de mortes no trânsito aumentando, quando vinha em uma tendência de decréscimo; o número de feridos aumentando.

E eu digo isso com toda a tranqüilidade, porque nas poucas vezes em que assumi esta Casa, no ano passado, fiz este debate e esta denúncia. E tive uma grata surpresa: a colunista Rosane de Oliveira, que foi uma voz destoante da maioria dos colunistas da Zero Hora e da maioria dos jornalistas da RBS - na época em que na Assembléia Legislativa se debateu a questão dos pardais, para reduzir o número de pardais -, fez uma matéria muito interessante, inclusive repetindo até algumas coisas que eu havia dito aqui, no sentido de que o melhor boicote ao pardal, dito “faturador”, era simplesmente obedecer à legislação, era simplesmente cumprir com a legislação de trânsito, andar dentro dos limites da velocidade. E por que eu digo isso? Porque a irresponsabilidade dos motoristas e principalmente a velocidade, comprovadamente, são as maiores causas de mortes. Não é o estado das estradas, como tem sido dito aí, até porque o maior número de mortes se dá em estradas bem conservadas. O maior número de mortes se dá pela irresponsabilidade, pelo descumprimento da legislação, pelo excesso de velocidade. Pois conseguiram, no ano passado, de forma eleitoreira, desviar o centro do debate. Era um ano eleitoral, ideologizaram essa questão, politizaram esta questão de forma negativa; fizeram um debate irresponsável, ao meu modo de ver, que levou ao enfraquecimento, que levou ao descrédito do Código Brasileiro de Trânsito. E o resultado está aqui, o que estamos vendo, esse triste espetáculo da volta do crescimento dos índices de violência no trânsito, dos índices de crescimento da mortalidade no trânsito. Conseguiram inverter o centro, o fulcro do debate, e as questões de ordem econômica, o imperativo do bolso conseguiu sobrepor-se ao debate mais importante, que é o debate em defesa da vida. Conseguiram fazer com que uma minoria - minoria, não apenas da população, minoria de motoristas que são infratores -, de infratores passassem a vítimas e conseguiram, inclusive, fazer com que parte da sociedade, manipulada e mal-esclarecida conseguisse aderir a este clamor para que simpatizem e defendam, nada mais e nada menos do que infratores do Código Brasileiro de Trânsito, que, com seus carrões, gostam de andar acima da velocidade e de colocar em risco toda a sociedade.

Infelizmente, alguns parlamentares, de forma oportunista, entraram nessa onda, inclusive aqui nesta Casa. Houve uma total inversão do debate, quando o centro do debate deveria ser a defesa da vida. A vida é a coisa mais importante; simplesmente passaram a defender o interesse de uma minoria de infratores que colocam em risco toda a sociedade. Até porque eu disse, quando nós votávamos aqui a extinção ou a substituição dos pardais por lombadas, àquelas pessoas que me vaiavam aqui neste Plenário - é muito fácil vaiar - que aqui não estavam, infelizmente, para protestar os mortos que foram vítimas dessa irresponsabilidade, desse morticínio no trânsito, simplesmente causado por uma minoria de motoristas irresponsáveis.

É uma grande conquista do Código Brasileiro de Trânsito. Eu não estou preocupado se o pardal é faturador ou não. Eu acho que essas pessoas têm que ser punidas no bolso e nos pontos, porque foi um grande acerto do Código Brasileiro de Trânsito, porque só punir no bolso não resolve, pois aqueles que têm dinheiro, pagam a multa e ficam rindo. O grande acerto do Código Brasileiro de Trânsito foi conjugar pontos na carteira de motorista, que depois de um determinado tempo leva, inclusive, à suspensão da carteira, com a multa.

Eu acho que esta Casa não pode mais entrar numa onda como esta que - não foi eu que disse -, como disse Rosane de Oliveira, naquele artigo, em meados do ano passado, que é uma demagogia, é fazer média com o senso comum numa coisa muito importante; é brincar com um valor muito importante que está acima de alguns reais que se pagam numa multa; é brincar com a vida que nós todos temos que defender. Acho que agora está comprovado o efeito danoso e a irresponsabilidade de todos aqueles que defenderam a flexibilização da legislação e que lançaram esse slogan irresponsável do “pardal faturador”, que, na verdade, deveria ser do “pardal salvador”, porque quem quer boicotar o pardal, é muito simples, é só cumprir a legislação.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O Ver. Raul Carrion está com a palavra em tempo de Comunicações.

 

O SR. RAUL CARRION: Ex.mo Sr. Presidente João Antonio Dib. Sr.as Vereadoras e Srs. Vereadores. Todos que nos assistem, aqui, no dia de hoje, e também nas suas casas. No dia de hoje, queria tratar de dois Projetos extremamente importantes na área da urbanização, campo ao qual viemo-nos dedicando ao longo de nosso mandato e sobre o qual tivemos um debate na TVCâmara junto com o Ver. Isaac Ainhorn, com a Ver.ª Maristela Maffei, que é o Projeto de Lei do Executivo Municipal, que entrou nesta Casa no dia 12 de dezembro, inclusive numa entrega simbólica no gabinete do Presidente, que trata do urbanizador social. Este Projeto, na verdade, regulamenta o artigo 76, essencialmente em seus parágrafos 3.º e 4.º do Plano Diretor desta Cidade. No ano passado, na CUTHAB, tivemos durante todo o ano um longo processo de discussão, de debate, onde foram chamadas as entidades da sociedade civil, os construtores, Sindicato dos Arquitetos, dos Engenheiros, o IAB, as entidades sociais do movimento popular, o empresariado, para discutir o significado, o papel e o conteúdo do Projeto. Portanto, o Projeto que vem para esta Casa, claro que não é perfeito, merece o estudo, a alteração e a colaboração da Casa para aperfeiçoá-lo, mas é um Projeto bastante amadurecido e bastante discutido com todos os setores, porque é um Projeto que, evidentemente, trata de questões da construção na Cidade, e nós sabemos que há interesses divergentes e convergentes. Qual é a essência deste Projeto? Primeiro, a compreensão de que hoje a questão da irregularidade habitacional é uma situação muito séria. Calcula-se que 25% da população viva em áreas irregulares, em cerca de quatrocentas vilas da nossa Cidade, e em situação precária de habitação. Esse problema não pode ser enfrentado em nível de município, e nós temos tido, historicamente, muito pouco enfrentamento em nível de Estado e de União nos últimos 10 anos. A COHAB acabou na penúltima gestão do Estado. Na última gestão, reverteu-se o processo com a criação da Secretaria Especial de Habitação. O problema, em nível nacional, está abandonado desde a falência do BNH. Agora, o Ministério das Cidades, com o Ministro Olívio Dutra, com a assunção também de outro gaúcho na Caixa Econômica Federal, há a possibilidade de termos uma política nacional, também estadual para continuar essa política municipal. Porém, todos os níveis do Estado são impotentes ainda, porque existem quase dezoito milhões de déficit habitacional quantitativo e qualitativo no Brasil.

Nós temos de considerar, por um lado, a autoconstrução, o próprio morador que, com seus recursos, vem suprindo uma demanda de habitação que os poderes públicos não são capazes de proporcionar, e temos de considerar a atuação também do empresariado da construção civil. E, nesse terreno, nós não temos hoje a oferta de lotes urbanizados ou de moradias para a população de baixa renda, porque a população de baixa renda, com um salário mínimo de 200 reais, mal consegue se alimentar, se é que consegue, como é que vai adquirir um imóvel? É preciso uma política, e, mesmo se considerarmos 3 ou 5 salários mínimos, é muito difícil, mas há uma faixa de 5 a 10 salários mínimos que tampouco tem oferta no mercado. Como se direciona o Projeto do urbanizador social? Ele procura impedir a multiplicação da irregularidade, pois uma boa parte da irregularidade habitacional surge porque alguns empreendedores imobiliários que têm a terra, mas não têm suficiente capital, encontram dificuldades de cumprir todas as exigências, enfrentar a demora da democracia e dispor do capital para construir os loteamentos adequados. O que eles fazem? Muitas vezes incentivam a ocupação irregular, abrem a porteira, como se diz, o povo precisa mesmo morar, vai lá e depois há todo um processo de tentativa de regularização, onde o Poder Público acaba tendo de investir naquilo que o empresário deveria ter feito, e que não o fez, e, às vezes, incentivou a ocupação; em outros casos, a terra abandonada é ocupada.

Então, o que é o urbanizador social? São os pequenos empreendedores que têm essas dificuldades, que são tentados ao loteamento irregular, que passariam a fazer uma parceria com a Prefeitura, que cadastra esses empreendedores e cria algumas facilidades, algumas vantagens, desde que o empreendimento seja destinado a famílias de baixa renda e para enfrentar essa demanda que não tem resposta no mercado. Quais são as facilidades? É interessante dizer que as cooperativas populares autogestionárias são equiparadas ao empreendedor social, ou seja, cria também para as cooperativas populares condições mais fáceis de produção de lotes ou de moradias. Eu cito algumas facilidades que são dadas por intermédio do Projeto: uma delas é que o Poder Executivo, nesse caso, vai gravar a área como Área Especial de Interesse Social, e ao gravar como Área Especial de Interesse Social ficam permitidas normas técnicas menos rígidas, mais adequadas a essa população; segundo, o Poder Público prioriza a tramitação administrativa, agiliza a tramitação desses projetos para que, no mais rápido prazo, seja possível a execução deles, porque a demora é custo também; terceiro, permite a urbanização parcial e ou progressiva. O que é isso? O empreendedor tem uma área e faz um projeto para produzir 200 lotes ou 200 moradias, então ele pode fazer por etapas, ou seja, primeiro constrói 50, depois mais 50, depois mais 50 e depois mais 50, então ele ganha a possibilidade de diluir o seu investimento e já ter um retorno; e também progressivo de outra forma, ele pode, para todo o empreendimento fazer os investimentos essenciais, básicos, arruamento mínimo, demarcação dos lotes, água, esgoto, luz e deixar para um segundo momento, possivelmente, o asfaltamento, a qualificação das praças e assim por diante. Tudo se volta, portanto, para permitir que o pequeno empresário da construção civil, o pequeno empreendedor, que não tem os recursos suficientes, possa enfrentar um loteamento regular.

Por último, a Prefeitura, ainda, através dessa lei, poderá se responsabilizar pelos estudos ambientais, os projetos urbanísticos e complementares, ou seja, diante da falta da capacidade de investimento, inclusive entrar com esses projetos, que deverão ser ressarcidos no tempo.

Quais são as compensações que o empreendedor deverá fazer? Primeiro, ele poderá compensar destinando uma contrapartida em dinheiro, em determinado momento à Prefeitura. Poderá ser através de lotes urbanizados que ele, em vez de comercializar, entrega para a Prefeitura; poderá ser através de equipamentos públicos que ele irá construir no loteamento: uma escola, um posto de polícia, um posto de saúde, ou seja, aquelas vantagens que lhe são concedidas são, por outra parte, ressarcidas em formas acordadas num termo de compromisso.

Eu diria que este Projeto é um Projeto onde todos ganham; ganhará a Prefeitura, que dessa forma inibe a irregularidade, deixa de gastar no futuro; é vantajoso para o empresariado que tem essas deficiências e é vantajoso para a população empobrecida que precisa da demanda de lotes e moradias.

Por isso, encerro pedindo um estudo atento desta Casa da regulamentação de um artigo do Plano Diretor que foi aprovado por esta Casa; creio que poderemos aperfeiçoá-lo e construir um grande Projeto para a nossa Cidade na área da habitação. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): A Ver.ª Maria Celeste está com a palavra em Comunicações.

 

A SRA. MARIA CELESTE: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, neste meu primeiro pronunciamento, Presidente, João Antonio Dib, gostaria de fazer uma saudação especial, desejando profícuo e árduo trabalho pela frente, neste ano Legislativo, ao senhor e a todos os demais integrantes, colegas da Mesa Diretora.

Gostaria de falar, hoje, sobre uma situação que está mobilizando o País e que, talvez, passe despercebida por todos nós que é a questão do novo Código Civil. Precisamente no dia 11 de janeiro, estará entrando em vigor o novo Código Civil brasileiro, que ficou tramitando no Legislativo por mais ou menos 26 anos e que deve estar confirmando, de fato, o direito já vigente no País. Todos nós sabemos que a Constituição Federal de 1988, que é a maior das nossas leis, já vem sendo cumprida na prática. O que traz de novidade na realidade esse novo Código? Ele traz um resgate de lutas históricas e posicionamentos que beneficiam as mulheres, porque nesse novo Código Civil constam os aumentos dos nossos direitos e também do reconhecimento da mulher. Pois vejam, na nova lei, o termo homem, como referência de pessoa, Ver. Zé Valdir, fica suprimido. A partir do próximo sábado, vai se usar o termo ser humano ou pessoa propriamente dita. Parece uma coisa superficial, mas a linguagem universal é masculina, e o nosso Código Civil traz isso carregado de masculinidade, a questão da palavra homem, não faz uma referência às mulheres, e as mulheres, que são na sua maioria a população do nosso País, não têm uma representação no nosso Código Civil atual. Pois bem, a partir de sábado, essa injustiça, entre aspas, estará sendo corrigida. Esse novo Código traz uma situação que corrige as desigualdades. A igualdade será plena no casamento, também teremos a igualdade absoluta entre os cônjuges e filhos na hora da herança. Com a entrada do novo Código, a expressão pátrio poder fica suprimida; agora será poder familiar, exercido igualmente por nós, mulheres, e pelos maridos, homens. Outra conquista das mulheres foi o término do direito que tinha o homem de pedir a anulação do casamento caso descobrisse que sua esposa não fosse mais virgem. Parece que a gente fala de coisas tão remotas, mas, na realidade, a legislação brasileira vigente até hoje diz que, no casamento, se constatar que a mulher não é mais virgem, o homem pode pedir anulação do casamento. Em tempos modernos, em tempos de relações de igualdade ainda a mulher é submetida a um código tão atrasado e a uma situação – eu diria – vexatória e discriminatória para as mulheres.

O novo Código também vai reconhecer de forma mais eficaz a chamada união estável como entidade familiar. Com isso qualquer uma das partes da relação poderá constituir uma nova relação e também requerer pensão alimentícia na justiça.

Com a nova lei, não haverá mais distinção entre filhos, ou seja: os adotivos passam a ter os mesmos direitos dos filhos legítimos e ilegítimos. Também não haverá mais a diferença entre a adoção plena e restrita.

O Código também vai mexer na questão da maioridade civil. O cidadão passa a ser maior, em termos civil, aos 18 anos, e isso traz para os jovens uma importante reivindicação, porque muitos se sentiam constrangidos, por exemplo, os que trabalham fora, morando sozinhos e se deslocam das cidades de origem da sua família para outras cidades para estudar, buscando novos horizontes, novas oportunidades de trabalho e passavam por constrangimentos por não poderem abrir uma conta no banco, por não poderem alugar imóvel no seu nome, dependendo da autorização e do consentimento dos pais e da assinatura desses. Então, essa questão vem trazer, também, para a juventude uma autonomia necessária e que de fato já acontece na prática.

O Código também irá estabelecer que o cidadão que se negar a realizar o exame de DNA para a comprovação da paternidade será presumido como pai. Ninguém mais poderá, então, se negar a fazer o exame de DNA, como muitas vezes acontece, causando, também, muito constrangimento para as mulheres em uma situação dessas, causando incômodos, tendo que entrar com ações judiciais. Então todo aquele cidadão que se negar a fazer um exame de DNA para comprovar paternidade de uma criança presumidamente será o pai. Além disso há outras alterações no novo Código. Ele vai alterar o regime de bens, o uso de sobrenome, a guarda dos filhos, a pensão alimentícia, as leis comerciais, condomínios residenciais, entre tantas outras. É lógico que nem tudo são flores, nem tudo é muito bom. O novo Código não conseguirá resolver todos os nossos problemas. Aliás, sabemos que algumas alterações merecem ampla divulgação para que a população possa conhecer os seus direitos e deveres, como o nosso Ver. João Antonio Dib gosta de ressaltar. Para isso muitas outras normas precisam ser incluídas, visto que a sociedade mantém um movimento contínuo de mudança. É evidente que muitas mudanças que existem no novo Código Civil apenas colocaram no papel aquilo que na prática, na efetividade, no cotidiano das pessoas já vem acontecendo. Apesar de o novo Código ter mudado muito pouco nos princípios gerais do Código de 1916, pois, na verdade, a intenção do novo Código é harmonizar as normas jurídicas já existentes e fazer uma atualização do Código aos dias de hoje e ao pensamento da sociedade, nós devemos mesmo assim saudar a entrada desse novo Código Civil, porque ele nos traz mudanças pontuais, significativas, importantes, ainda que necessário o estudo e a busca sempre dessas mudanças.

Para finalizar, eu gostaria ainda de fazer uma referência à posse dos novos conselheiros, que se realizou na terça-feira, nesta Casa nesta semana. Quero fazer uma saudação especial aos 21 novos Conselheiros da Cidade. O Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente é um Conselho que trata e delibera sobre as políticas públicas da infância no Município. No que diz respeito à representação deste Conselho, Porto Alegre tem a questão da tripartite, são quatorze entidades não-governamentais, sete entidades ligadas ao Governo Municipal, ao Executivo Municipal com uma representação da Câmara Municipal - esta Câmara compõe este Conselho também -, e das 14 entidades não-governamentais, 7 delas fazem o atendimento direto à criança e ao adolescente e 7 delas fazem uma atendimento indireto. Este Conselho delibera sobre a infância na cidade de Porto Alegre, discute quotidianamente a infância no Município. Portanto, aos 21 novos Conselheiros empossados nesta semana, vida longa, muito trabalho pela frente, muita clareza e muito sucesso nesta gestão que se inicia. Muito obrigada.

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O Ver. João Carlos Nedel está com a palavra, por cedência de tempo deste Vereador, em Comunicações.

 

O SR. JOÃO CARLOS NEDEL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, eu gostaria de enfocar aqui um problema sério que está ocorrendo em Porto Alegre: é o aumento e o abandono dos moradores de rua. Eles já têm até uma titulação: “moradores de rua”. Nós não temos a mesma idéia que tem a FASC, de que essas pessoas têm o direito de morar na rua. Nós achamos que a pessoa tem o direito à dignidade. E não é dignidade morar na rua! Dignidade é ter uma residência, ter uma família. Fico impressionado cada vez que circulo por Porto Alegre. São adultos e crianças. Este é um problema sério, já que a nossa ilustre Ver.ª Maria Celeste se referiu à posse dos novos conselheiros do Conselho Municipal da Infância e da Juventude. Tenho certeza de que os novos conselheiros estarão atentos a isso.

Estive nas proximidades da ponte da Azenha, na esquina das Av. Azenha com Av. Ipiranga e lá, sob a ponte, estão morando mais de vinte pessoas, entre as quais, várias crianças, usando drogas ilícitas à vontade. Fui lá e fotografei; encaminhei um Pedido de Providências à Prefeitura para que o Conselho Tutelar tome conhecimento desse fato e para que isso não se prolifere. Impressionante! Também tenho tido muitas reuniões com os moradores do entorno da nossa Catedral; nos degraus da Catedral. Existem pessoas que lá estão, todas as noites, dormindo nos degraus da Catedral, abandonadas.

Também estive na Rodoviária, e existem moradores na Rodoviária. Impressionante, moradores nas recepções das emergências dos hospitais, porque não têm onde morar, e ficam lá, dormindo nas emergências dos hospitais. Esse é um problema sério, seriíssimo, e cabe a todos nós esta responsabilidade. E, agora, quando é criada a Secretaria dos Direitos Humanos, acho que teremos, ao menos, trabalho para ela. E agora também a Prefeitura tomou posse de um prédio, aqui defronte à Câmara Municipal - e é por isso que eu estava lá tirando fotografias, Ver.ª Maria Celeste -, e quero propor que seja utilizado este prédio, que era da CEEE e que, agora, é do Município, para um abrigo, para um albergue, para que esses moradores tenham um local para dormir ou para se alimentar, para que não ocorram mais os problemas sérios que aí estão. Está aí uma oportunidade para a Prefeitura dar um passo muito adiante na solução desse grave problema, que fere a dignidade da pessoa humana. É um problema muito sério, porque lá prolifera a droga, prolifera o roubo e prolifera o lixo. Nós precisamos devolver a dignidade a essas pessoas. Acontece tudo isso também por falta de uma política habitacional em Porto Alegre - faltam mais de setenta mil moradias; isso me foi dito pelo ex-Diretor do DEMHAB, Dr. Carlos Pestana; mais de setenta mil moradias é o déficit habitacional em Porto Alegre - e também pela falta ou por uma insuficiente política social no nosso Município.

Então, há novos desafios ao Prefeito João Verle e ao seu novo secretariado, que toma posse com muito entusiasmo. Fica aqui esta sugestão: caminhar, evoluir, dar um passo à frente para solucionar o assunto dos direitos humanos dos moradores de rua em nossa Capital. Eu sou um defensor do turismo, e como um turista vai vir e ver o que está ocorrendo? E isso também está ocorrendo, Ver. Isaac Ainhorn, na orla do Guaíba; estão invadindo a orla do Guaíba. Já existem casebres na orla do Guaíba aqui, a 100, 200 metros da Câmara de Vereadores; já estão invadindo o Largo Dom Vicente Scherer, e aqui, ao lado da Receita Federal, já temos uma vila de papeleiros, que é uma vergonha para a nossa Cidade! Passei lá ontem; é uma degradação impressionante; é uma vergonha! Como um turista virá a Porto Alegre, agora, ao Fórum Social Mundial e verá esses disparates? Tenho certeza de que o que não é bom para um habitante de Porto Alegre não pode ser bom para um turista. Nós precisamos pensar sobre isso.

Por último, gostaria de deixar muito clara a situação do meu Partido, o Partido Progressista Brasileiro, pois anunciou-se uma possível fusão com o PTB. Estive na reunião do Diretório Regional e ficou devidamente esclarecido que não há nada, não acontecerá nada, não há fusão em andamento. Os nossos filiados podem ter a certeza de que o PPB continuará sendo o maior Partido do Rio Grande, com mais de 1.500 Vereadores, mais de 170 Prefeitos e 160 Vice-Prefeitos.

Então, esclareço aos nossos filiados e à população que não há nenhum sentido sobre a fusão anunciada, especulada. O nosso Partido continua com uma Bancada de quatro Vereadores nesta Casa: João Antonio Dib, Pedro Américo Leal, Beto Moesch e eu, João Carlos Nedel, e estamos firmes na nossa decisão de defender o bem comum, de defender a nossa Cidade e promover o nosso desenvolvimento, a nossa luta contra o desemprego, em favor do bem-estar social. Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O Ver. Isaac Ainhorn, ontem, colocou na tribuna a sua preocupação - e eu alertava também – com a republicação do Decreto que estabelece os valores por metro quadrado de construção. A Procuradoria examinou e disse que, realmente, houve a republicação do Decreto enfocado para correção de irregularidades formais: (Lê.) “Valor do item 2, letra “a”, do artigo 2.º; artigo 9.º do Decreto n.º 58.815/76, alterado pelo artigo 3.º do Decreto em exame.” Está aqui cópia do Decreto publicado no dia 31 de dezembro, terça-feira, no Diário Oficial. Eu cumprimento o Ver. Isaac Ainhorn pela atenção que deu ao Decreto.

O Ver. Isaac Ainhorn está com a palavra em Comunicações.

 

O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, quero agradecer-lhe, Ver. João Antonio Dib. V. Ex.ª encaminhou a questão à manifestação da Procuradoria, conquanto é um assunto relevante, do interesse do conjunto da comunidade. Esta Casa tem uma enorme responsabilidade sobre as questões que envolvem o Município e, notadamente, em relação a matéria de natureza tributária, numa época tão difícil como esta que estamos vivendo, agiu e obrou com agilidade. Esse é o sentido da Comissão Representativa desta Casa, no funcionamento permanente da Câmara de Vereadores durante o período de janeiro e fevereiro, porque as questões são jogadas. Vereador, se alguma questão for trazida ao âmbito desta Casa, neste mês de janeiro e até dia 15 de fevereiro, que exija convocação extraordinária desta Casa - V. Ex.ª sabe que, felizmente, num trabalho conjunto da legislatura dos Vereadores de 1990... Não há ônus, não há jetom nenhum -, não tenho dúvida de que V. Ex.ª não titubeará em, como Presidente da Casa, convocar extraordinariamente a Câmara Municipal para examinar a matéria.

Aliás, eu tenho uma outra questão, nós vamos aguardar o recebimento dos carnês por parte dos contribuintes de Porto Alegre para ver a repercussão. E não há óbice, Vereador, nós vamos discutir essa matéria aqui. E o princípio da anualidade, em Direito Tributário, existe para proteger o contribuinte. E se forem muito penalizantes os 25,31% sobre o valor do ano passado, eu não tenho dúvida de que esta Casa poderá se autoconvocar e examinar uma saída para a questão. Porque pagar antecipado até o dia 10 de fevereiro... Era até o dia 30 de janeiro e, agora, por uma iniciativa não sei de que Vereador desta Casa, estendemos até o dia 10 de fevereiro – o que é positivo –, com 20% de desconto até esse dia. Foi o Ver. Carlos Alberto Garcia. Saúdo o Ver. Carlos Alberto Garcia pela iniciativa. Ele, rapidamente, mencionou que era ele, sinalizando a este Vereador que faz uso da tribuna; ele merece o respeito e a consideração, porque aumentou em dez dias o prazo para pagamento do IPTU com 20% de desconto. Agora, só pode pagar antecipado, Vereador, quem tem caixa. E vejam V. Ex.as: quem não tem caixa paga com 20% em dez parcelas durante o ano. Dos contribuintes do IPTU, 25% são inquilinos, Ver.ª Maria Celeste, e, por força contratual, o inquilino paga os acessórios, condomínio, IPTU e tudo o que integra a relação locatícia.

Veja V. Ex.ª a dificuldade por que vão passar os inquilinos, porque também os contratos de locação, Vereador, são vinculados ao IGPM! E o que estão fazendo as imobiliárias de Porto Alegre? Negociando, porque tem muito inquilino que não está suportando o reajuste de 25%, no valor locatício. Ora, eu digo, se as imobiliárias, empresas privadas, que representam os interesses dos proprietários de imóveis, estão sentando à mesa com os inquilinos para negociar, por que a Prefeitura não pode sentar à mesa com os munícipes, para negociar com aqueles que não têm condições de pagar esse brutal aumento de 25,31%? É uma questão que eu deixo à consideração.

E se fizéssemos qualquer negociação de redução desse impacto no mês de janeiro, Vereador, nós não estaríamos ferindo o princípio da anualidade. Por quê? Porque para melhorar, em benefício do contribuinte, pode-se legislar para este ano ainda; se for para diminuir o impacto, é possível, temos que discutir a questão da constitucionalidade. Mas nós temos de ter sensibilidade social, temos de ter sensibilidade para essas questões. Agora, uma questão está assente em relação ao IPTU, Ver. João Antonio Dib, V. Ex.ª, que, junto com o Ver. Elói Guimarães, o Ver. Carlos Alberto Garcia e o Ver. Sebastião Melo, que há pouco estava aqui, tanto conhecem a questão do Orçamento do município de Porto Alegre. Eu indago aos Srs. Vereadores, inclusive aos do PT - sobretudo aos do PT -: com esse aumento de 25,31%, nós temos condições de, no ano de 2003, reavaliar a Planta de Valores da cidade de Porto Alegre, o que terá como conseqüência, natural, o aumento do IPTU acima da inflação, para 2004? Não. Esta Casa não tem condições. E a mensagem está dada – eu tenho certeza de que, neste momento, eu já tenho posição à mensagem ao Executivo -: não apresentem proposta de reavaliação de Planta de Valores este ano, porque é inconveniente, do ponto de vista do contribuinte. Eu tenho certeza de que neste momento, eu já tenho o apoio dos Vereadores aqui presentes que têm uma história em relação a isso: o Ver. João Antonio Dib, o Ver. Sebastião Melo, e o Ver. Elói Guimarães, e até da Bancada do PT. Seria inconveniente, porque nós sabemos que este é um ano que não é eleitoral. Então, é um ano em que os governantes - e não é só do PT - gostam de aumentar tributos, porque não é ano eleitoral. Já tentaram impor a taxa de iluminação pública na cidade de Porto Alegre e não conseguiram.

Então, a mensagem está dada, por parte, eu tenho certeza dos Vereadores de oposição e da sensibilidade dos Vereadores petistas também. É inconveniente reavaliar a Planta de Valores dos imóveis da cidade de Porto Alegre de 2003 para 2004, porque o aumento que já vai no IPTU deste ano, que é o aumento que o Prefeito fez por decreto, de 25,31%, que é o indexador do IGPM, já é o quanto basta de aumento, e sobre este haverá um aumento do IGPM deste ano em relação ao ano que vem.

Nós, no início do ano, já estamos registrando esta questão, porque é muito séria: a questão do IPTU e de outros tributos. Tem-se que ter a sensibilidade de buscar mecanismos de receita sem onerar o contribuinte. Daí, certamente, o Ver. Zé Valdir vai fazer-me uma interrogação: “Mas como, Vereador, como é que nós vamos aumentar a receita sem aumentar os tributos?” Existem outros mecanismos. Eu acho que nós temos que reavaliar o ISSQN e, de repente, é possível, reavaliando o ISSQN, até reduzindo em algumas faixas, aumentar a arrecadação, pois tem muita evasão fiscal; tem muita empresa que opera em Porto Alegre, mas tem a sua matriz em cidades da Região Metropolitana, cuja alíquota é inferior à praticada em Porto Alegre, que é de 5%. Eles vão lá, operam aqui, mas pagam imposto lá de meio por cento e 1%, porque em Porto Alegre é 5%. Agora, se houvesse uma sensibilidade em Porto Alegre de redução, até como experiência, poder-se-ia aumentar - pela vinda dessas empresas novamente para a cidade de Porto Alegre – a arrecadação tributária.

Mas essa é uma discussão para ser feita com profundidade, e nós teremos todo este ano. Eu já quero deixar a Casa com essa sensibilidade alerta para as reclamações que virão em relação à questão do IPTU na cidade de Porto Alegre.

Sr. Presidente, requeiro o tempo de Comunicação de Líder para abordar uma outra questão que foi debatida aqui desta tribuna, que envolve a questão dos acidentes de trânsito no Rio Grande do Sul e esse verdadeiro morticínio, essa verdadeira guerra civil do trânsito, para que eu também, daqui desta tribuna, possa emitir alguns conceitos.

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Concedo o tempo de Comunicação de Líder a V. Ex.ª.

 

O SR. ISAAC AINHORN: Hoje, o jornal Zero Hora registra que acidentes mataram mais em 2002 : “Estradas gaúchas produziram no ano que passou setecentas e quarenta e seis vítimas fatais.” E diz: “O trânsito em rodovias estaduais e federais em 2002 foi o mais letal desde 1998 no Rio Grande do Sul. O levantamento foi produzido pelas polícias rodoviárias federal e estadual. Setecentas e quarenta e seis pessoas morreram na estrada no último ano; 7,3% a mais que no ano anterior. A maior taxa de crescimento desde a implantação do Código de Trânsito Brasileiro”.

Mata-se mais no trânsito do Rio Grande do Sul, somando-se os três anos, que na própria guerra civil da Intifada no Oriente Médio. Vejam a gravidade do assunto que estamos enfrentando, exclusivamente mencionando o trânsito no Estado do Rio Grande do Sul. E as causas? O Ver. Zé Valdir fez uma longa explanação, dizendo que temos que pensar mais na vida e punir os infratores. Não tenho nada a objetar a essa colocação feita pelo Ver. Zé Valdir, agora, quero dizer que nenhum governo, tanto na esfera municipal, de Porto Alegre, nem estadual foi tão violento do ponto de vista de cobrança de multas, pardais e todas as formas eletrônicas de punição, através de multas fortes e com repercussão na própria carteira de motorista e, vejam, V. Ex.as, que de pouco adiantaram. Houve um aumento de mortes de 2001 a 2002 e a média de mortes nas estradas do Rio Grande do Sul foi de duas pessoas por dia. É uma tragédia, é grave.

Agora pergunto: será que as atividades punitivas, como essa que é levada a efeito através dos pardais na cidade de Porto Alegre, chamada “pardais faturadores” e os pardais existentes, sobretudo nas rodovias estaduais aumentando e fazendo caixa, seja no Município de Porto Alegre, seja no Estado do Rio Grande do Sul, resolveram a questão? Não. Não nego que alguns mecanismos de controle eletrônico de velocidade são importantes, sobretudo aqueles que aparecem, que são visualizados. Eu desafio V. Ex.ª, um dos lugares de grande número de acidentes, que era ali na Av. Padre Cacique, em frente ao estádio do Sport Club Internacional, no Beira-Rio, junto à Escola Maria Imaculada, onde duas jovens morreram atropeladas há 14 anos; hoje, com aqueles controladores eletrônicos visuais, a pessoa mesmo já se controla para a redução da velocidade naqueles trechos. Parece-me que ali reduz a 40 quilômetros horários; dificilmente há acidente. Mas não há aquela intenção arrecadatória. O controle de velocidade sem intenção arrecadatória é importante. A alta velocidade é uma das razões, mas não é isoladamente. O estado das estradas do Rio Grande do Sul, a ausência de sinalização são também causas preponderantes.

Eu sou uma pessoa que viaja nas estradas do Rio Grande do Sul. Eu digo, Ver. Zé Valdir, conheço casos. Vou dar um exemplo: a estrada Santa Maria-São Borja, a BR 476, hoje é um verdadeiro caos. As empresas de transporte de passageiros modificaram seus trajetos para São Borja, Itaqui, indo por Lajeado, Soledade, Tio Hugo, Cruz Alta, Ijuí, São Borja, Itaqui, São Luiz, aquela região. Eles iam por Santa Maria. Não vão mais, porque é absolutamente impossível viajar naquelas estradas. Eu cheguei a dizer, em certa oportunidade, Ver. Carlos Alberto Garcia, na época do Governador Olívio Dutra, que a saída era interromper à noite em nome da defesa da vida, porque há crateras com 60 ou 70 centímetros de profundidade. Quem não é conhecedor daquela estrada, sucumbe. Fala quem viaja e quem conhece. A sinalização é fundamental, e o pouco que há de sinalização é na estrada pedagiada, mas está duro viajar em uma estrada pedagiada. De Porto Alegre a Carazinho, um automóvel está gastando mais de 32 reais! É literalmente abusiva essa estrada. Eu não sou contra o pedágio, mas o que tem de pedágio de Porto Alegre, passando a Tabaí - que é federal, que não tem -, até Carazinho, é brabo; quem anda sente, e sente duro. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O Ver. Elói Guimarães está com a palavra em Comunicações.

 

O SR. ELÓI GUIMARÃES: Sr. Presidente, Srs. Vereadores e Sr.as Vereadoras, o noticiário que tomou conta principalmente da Região Sul do País, envolvendo Santa Catarina e Rio Grande do Sul, com um possível reexame da BR-101, que vem de Santa Catarina a Osório, no Rio Grande do Sul, o alargamento dessa BR fundamental para o desenvolvimento Regional Sul, envolvendo o próprio Mercosul. Parece-me que está havendo um certo refluxo na decisão do Presidente, eu penso que ele tem direito de mandar examinar os contratos, até porque decisões judiciais existem sobre a matéria, então seria de prudência administrativa mandar fazer uma análise das condições de licitação, mas o que não pode acontecer é não se dar prosseguimento e não se iniciar a referida BR-101. Eu tenho sido crítico do ex-Ministro Eliseu Padilha. Ora, quando é que vamos ter um Ministro dos Transportes? Daqui a 10, 15, 20 ou talvez 100 anos! Pois tivemos um Ministro dos Transportes exatamente dessa região, e, olha, muito pouco se fez, Ver. Zé Valdir, deixou-se a desejar, um homem que tinha toda a força do Presidente da República. Tanto é verdade, que ficou mais ou menos três anos, mas depois, a pedido do Presidente, ele continuou Ministro dos Transportes e ficou todo o tempo. Nós temos uma região fantástica conhecida como Estrada do Inferno, enfim, uma série de obras que poderiam, na minha opinião, ter sido feitas e iniciadas. A BR-101, por exemplo, deveria ter sido iniciada, enfim, pela sua importância. Então, eu acho que o Ministro Padilha, o Deputado mais votado do Rio Grande do Sul, perdeu uma grande oportunidade de se consagrar na sua região e no seu Estado, perdeu uma grande oportunidade. Quando é que vamos ter um novo Ministro dos Transportes? É a questão que fica.

Bem, está agora esta situação criada com a BR-101, esperamos, e parece que há um refluxo do Presidente da República para que tão logo se esclareçam determinados pontos, que a estrada, como já estava programado o seu início, comece, porque ela é importante, ela é fundamental e diz com o debate que está na Ordem do Dia que é a questão dos acidentes. A BR-101, de Palhoça a Osório, talvez seja a estrada mais perigosa do País; é uma estrada que tem ceifado vidas e vidas pela sua estrutura e pelo volume de trânsito e tráfego que ela tem. Então, é uma obra fundamental para a Região Sul do País, para Santa Catarina, para a Argentina, o Uruguai, o Mercosul, etc. e tal. Então, é uma obra que consagra um Governo. Haverá de ficar aqui o nosso clamor, dizendo, pedindo, reclamando, que se inicie a BR-101, porque além de minimizar significativamente os acidentes, e na sua maioria acidentes graves, gravíssimos, ela vem contribuir para o nosso desenvolvimento econômico, desenvolvimento de toda uma região do nosso País. Na questão debatida, ligada ao trânsito, à morte de pessoas, há uma visão equivocada, entra no componente sinistro; é um componente importante, mas ele não responde por tudo: a velocidade. Tive alguma experiência, trabalhamos algum tempo nessa área, a velocidade é um dos componentes importantes no desencadeamento do acidente, mas não responde só ela pelos acidentes. Então, essa política fiscalista, tem algum resultado, mas ela por si só é inconsistente para aplacar os acidentes de trânsito. Porque é aquela história, está ali o pardal, o cidadão chega ali, diminui a velocidade, passa o pardal, ele dispara, como se diz, “mete o pé no fundo”. Acho que nós precisamos algumas coisas mais. Eu não saberia dar aqui e nem sei se teria aqui estatística dos componentes que determinam o acidente. Deixemos de lado a fatalidade, que também é um componente muitas vezes até inexplicável, a velocidade é um componente, mas o maior componente que desencadeia o acidente é a irresponsabilidade. E essa passa por quem? Passa, muitas vezes, pelo alcoolismo, pela falta de educação de parte de motoristas e também a velocidade, evidentemente, mas não é a velocidade por si só, que responde pelos acidentes. É uma visão equivocada dizer: “olha, se acabarmos com a velocidade está resolvida a questão dos acidentes”. Absolutamente, não! E se tomarmos as estatísticas, principalmente nas cidades, veremos que não foi a velocidade a causa determinante para o acidente. E lembro, quando Secretário dos Transportes, em Porto Alegre, estando em Curitiba fazendo uma análise e um estudo, e depois trouxemos para Porto Alegre os quebra-molas - as chamadas ondulações transversais -, que eram largamente utilizados naquela oportunidade em Curitiba, no Paraná, dito à época - e deve continuar - como uma espécie de paradigma, modelo de planejamento de trânsito, de transportes, enfim de vias e rodovias.

Então, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, fica aqui a nossa manifestação, pois o debate é atual e vejam que o Estado está disseminado de controladores de velocidade, e, no entanto, qual foi o resultado, a não ser um crescer significativo de acidentes de trânsito com morte.

Nós temos que investir naquilo que é a chave de tudo, que se chama educação, porque é a educação no trânsito que vai levar o cidadão à responsabilidade. Educação é responsabilidade.

Encerrando, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, dizemos que se faz imprescindível a construção da BR-101 até para eliminar acidentes de trânsito.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O Ver. Carlos Alberto Garcia está com a palavra em Comunicações.

 

O SR. CARLOS ALBERTO GARCIA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, Sr.as Vereadoras. Ontem nós tivemos a oportunidade de comentar a respeito dos preços de combustíveis em Porto Alegre e a relação dos preços de combustíveis no Litoral. E colocamos que nós começaríamos, a partir de ontem, uma campanha para que os veranistas abastecessem os seus carros aqui em Porto Alegre. Nós ficamos bastante satisfeitos porque hoje dois jornais de grande circulação em todo o Estado - inclusive um deles colocou como capa - fizeram uma matéria sobre os preços mais caros do litro da gasolina. Nós ficamos bastante satisfeitos, porque o que falamos ontem já teve eco. Hoje os jornais já estão fazendo os dados comparativos dentro daquilo que nós falávamos ontem. Há uma divergência só de número - nós informamos que era de 11,08% e eles falam em 10% -, mas a realidade é que existe uma discrepância muito grande entre os preços da gasolina em Porto Alegre e no Litoral. Eu quero trazer alguns dados aqui que o próprio jornal hoje informa. Por exemplo, enquanto que em Porto Alegre temos combustível a 2 reais e 18 centavos, 2 reais e 19 centavos; em Cidreira nós temos a 2 reais e 45 centavos; em Tramandaí, a 2 reais e 46 centavos; em Imbé, a  2 reais e 40 centavos; em Capão da Canoa, a 2 reais e 46 centavos; em Torres, a 2 reais e 43 centavos, mostrando realmente que é um preço abusivo. Inclusive ontem nós comentamos sobre algumas situações, colocando que, em quatro viagens que os veranistas fazem, ou seja, a cada dois finais de semana, um trecho desses é o que significa realmente essa diferença que é paga em termos dos combustíveis no litoral. O nosso Gabinete vai começar a fazer uma campanha junto às praças de pedágio para que a população se conscientize de que não tem que abastecer no litoral. Nós vamos fazer uma campanha maciça em cima disso. Volto a dizer o que afirmamos ontem: tão logo os postos do litoral fiquem convencidos de que os preços que eles estão cobrando é algo abusivo, fora da realidade, quando eles retrocederem, baixando os seus preços ao nível de Porto Alegre, nós voltaremos a ocupar esta tribuna para dizer às pessoas que, quando forem ao litoral, poderão fazer esse tipo de abastecimento. Só que, neste momento, a população tem que fazer essa cruzada, tem que fazer realmente um boicote. É inadmissível que, num trecho de 120 km, 130 km, a população seja penalizada em pagar 11,8% a mais sobre os preços dos combustíveis aqui de Porto Alegre. E não adianta alguém me justificar. Nós vamos é entrar em contato com o Sindicato dos Combustíveis e Revendedores do Rio Grande do Sul, porque, por mais que eles digam que existe a questão do tráfego até lá, a distância, isso não justifica, mas pode ser que eles tenham alguma justificativa para nos convencer. Só queremos registrar que vamos começar a fazer uma campanha maciça em cima disso para que a população se convença de que não deve abastecer no litoral, porque esses preços nós, realmente, achamos absurdos. E nós temos o direito e o dever de zelar pela população. É livre o preço – que bom que é livre! -, mas, ao mesmo tempo, temos de saber que, quando as coisas são abusivas, a sociedade civil organizada pode, sim, fazer um boicote, para que, durante vários e vários dias, ninguém abasteça naqueles postos. É isto que estamos propondo, é isto que queremos. Esperamos que, num curto espaço de tempo, de 10 a 15 dias, possamos utilizar esta tribuna novamente para dizer que os preços no litoral baixaram.

Quero também registrar, Sr. Presidente, com profundo pesar, que, no dia 7 de janeiro, faleceu o Bispo Sady Machado da Silva, da Igreja Metodista. Em 6 anos de mandato, nós concedemos dois títulos de Cidadão Emérito de Porto Alegre, e um desses títulos foi para o Bispo Sady Machado da Silva. O Bispo Sady Machado da Silva nasceu em 1914, em Uruguaiana; concluiu o 1.º grau no Colégio União, da Igreja Metodista; fez o 2.º grau no Granbery, em Juiz de Fora; formou-se em Filosofia, na PUC. Era Bispo Emérito da Igreja Metodista e, além disso, teve inúmeras participações, no Brasil e fora do Brasil, tendo sido Presidente da Coordenadoria Ecumênica de Serviços; Bispo da 2.ª Região Eclesiástica da Igreja Metodista, Presidente do Colégio Episcopal do Brasil, por 12 anos, além de Conselheiro Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil. Foi um homem que destinou toda a sua vida vocacional ao próximo. Aqueles que o conheceram sabem do significado e da importância que esse homem teve como pastor, uma pessoa que dedicou toda a sua vida a formar cidadãos. Tivemos a oportunidade de participar do seu velório. Foi um velório diferente, onde as pessoas realmente estavam sentidas por terem perdido o Bispo Sady Machado da Silva, mas, ao mesmo tempo, estavam agradecidas por terem convivido com ele. É por isso, Ver. Dib que, neste momento, aqui da tribuna, solicito que façamos um minuto de silêncio em homenagem a esse grande homem, Bispo da Igreja Metodista, Presidente do Colégio Episcopal Sady Machado da Silva.

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Deferimos o pedido.

 

(Faz-se um minuto de silêncio.)

 

O SR. CARLOS ALBERTO GARCIA: Obrigado, Sr. Presidente. Faço, ainda, o registro de que, no dia 25 de setembro, esta Casa concedeu o Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Bispo Sady Machado da Silva. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O Ver. Sebastião Melo está com a palavra, em Comunicações. Ausente. O Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra, em Comunicações.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, ingresso na Casa e neste Plenário no exato momento em que a Casa presta uma homenagem póstuma ao Bispo Sady Machado da Silva, que hoje não mais se encontra entre nós. Como bem acentuou o Ver. Garcia, o Bispo Machado foi devidamente homenageado por esta Casa ainda em vida, e, agora, recebe a homenagem da mesma, após ter cumprido a sua trajetória aqui na terra e ter sido convocado para outras situações que os desígnios divinos determinaram. Sei que a família Machado deve estar vivendo, hoje, a dor justificada da perda de um ente tão querido, e quero, Ver. Garcia, me associar a V. Ex.ª nas homenagens que a Casa já prestou e que tiveram em V. Ex.ª o elemento deflagrador.

De resto, a vida da Cidade continua, a vida do País continua, a vida do Estado continua, e com todas as situações novas que marcam a virada de ano com a presença de um novo Governo na esfera federal, de um novo Governo na esfera estadual, com mudanças no secretariado do Município, o que gera, de certa forma, uma expectativa na sociedade brasileira e gaúcha, que, naturalmente, começa a ver confirmadas algumas das suas expectativas, com temores e algumas frustrações em outras situações, e marcadamente com um certo desalento, na medida em que o Governo constituído no País - e que o foi mercê da vontade da maioria absoluta da sociedade brasileira, expressa no segundo turno das eleições presidenciais do ano de 2002, de forma muito clara, quando mais de 60% dos brasileiros, de forma expressiva, manifestaram a sua vontade de ver o Partido dos Trabalhadores, especialmente o seu candidato, Luiz Inácio Lula da Silva, colocado na Presidência da República, e, evidentemente, oportunizava-lhe a realização de um projeto que vinha sendo perseguido por várias ocasiões, já que era a quarta tentativa de Luiz Inácio Lula da Silva de chegar à Presidência da República - apresenta alguns aspectos que, certamente, aqueles brasileiros que, como nós, torcem no sentido de que ele consiga realizar plenamente os seus objetivos, ficam um pouco apreensivos, quando não muito apreensivos. Nesse particular, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, já tramita na Casa alguns expedientes, alguns dos quais de nossa iniciativa, que alertam, por exemplo, o Presidente da República sobre a verdadeira sandice que representará a confirmação, já não tão confirmada nos dias de hoje, do Ministro dos Transportes, de suspender a licitação a respeito da duplicação da Rodovia Federal 101, no trecho de Palhoça a Osório, que é uma reclamação antiquíssima do Estado do Rio Grande do Sul e do Estado de Santa Catarina e que, certamente, corresponderia, nos anseios manifestados, à vontade de uma sociedade que observa que todo o crescimento econômico dessa região, a sua posição de integração e de rota preferencial do Mercosul, não permitiria que, de forma nenhuma, se protelasse mais ainda a realização dessa obra, repito, há muito desejada e que, inclusive, presentemente dispõe da garantia de recursos externos capazes de assegurar a sua plena realização. Mas vemos, nesse particular, alguns sintomas de recuo sobre essa posição.

Com relação a isso é que eu gostaria de salientar alguns temores meus que eu acredito que precisam ser colocados desde o primeiro momento para que não pareça mais tarde que estejamos nós jogados no oportunismo. Eu vi, por exemplo, que o Ministro da Defesa, ao se pronunciar pela primeira vez perante a Nação, anunciava, de forma estrondosa, a suspensão da licitação para a aquisição de novas aeronaves para a Força Aérea Brasileira. Eu até entendo que um Governo tenha o direito de revisar posições e que algum Governo pode entender, inclusive, que a FAB não deve ter novos equipamentos, não deve ter novas aeronaves, pode até entender que não deve nem existir a FAB ou que tem de ficar trabalhando com esses equipamentos que hoje dispõe até que eles caiam no chão, se espatifem e isso gere uma comoção nacional. Então, comprar ou não comprar aviões para a FAB é um problema absolutamente de opção política. O que me preocupa e o que eu acho que deve ser objeto de consideração de toda a sociedade brasileira é o motivo falsamente apresentado, ao se dizer que estava se suspendendo essa licitação para se gerarem recursos para os programas de combate à fome, do Presidente Lula. Mas isso é estultice, é um despautério que não pode ser passado para a Nação, sob pena de ofender a inteligência nacional. Todos nós sabemos que a licitação que havia sido elaborada, para aquisição desses equipamentos, condicionava, entre outras coisas, que o licitante trouxesse consigo a garantia da obtenção dos recursos de financiamento para médio prazo, porque uma aquisição de equipamento dessa ordem não se realiza do dia para a noite, uma licitação dessas leva mais de um ano para se realizar. E depois de concluído, com a forma estabelecida nas suas premissas de que teria de haver um financiamento internacional, e que haveria a garantia de que esse financiamento seria pago com produtos brasileiros e não com recursos. Quando se sabe tudo isso, ouvir essa afirmação é agressivo à inteligência nacional, é uma brincadeira que se faz com a Nação, porque não se vai gerar 1 centavo sequer para os programas de combate à fome, com a suspensão dessa licitação. Aliás, os recursos para o combate à fome no País já estão previstos, desde o momento em que o Senador Antônio Carlos Magalhães conseguiu instituir o programa de combate à pobreza. Permitiu inclusive que fossem majoradas algumas das alíquotas de impostos nacionais. A própria Lei do Cheque foi majorada, para que houvesse recurso para o combate à fome. Vários tributos foram majorados, o COFINS foram também majorados; o Imposto de Renda foi majorado em 10%; passou de 25% para 27,5%, para que houvesse recurso ao combate à fome. E esses recursos estão sendo cobrados da sociedade brasileira todo esse tempo. Então, se querem, efetivamente, priorizar o combate à fome, faz-se muito bem a utilização desses recursos disponibilizados pela ação inteligente do Senador Antônio Carlos Magalhães, que viu aprovado o seu programa de combate à fome há 2 ou 3 anos. Se os recursos não estão sendo devidamente aplicados, cabe ao novo Governo, em uma atitude que merece o nosso aplauso, fazer com que esses recursos sejam aplicados. Afinal, outro não foi o motivo, porque agora, no final do ano, se protelou por mais um tempo esse acréscimo no Imposto de Renda Retido na Fonte, que é o verdadeiro drama da classe média brasileira, que continuará a pagar os 27,5% de Imposto de Renda. Continuará tendo retido na fonte esse valor, para que se cumpra, por parte do Governo, várias tarefas, entre as quais, se utilize esse residual de 2,5%, que é o acréscimo, agora, prorrogado, para o combate à fome neste País.

Então, não se façam medidas assim aparentemente profundas, mas que são demagógicas. Não se diga que não se vai comprar os aviões da FAB, porque têm que se arrumar recursos para o combate à fome, porque nada tem a ver uma coisa com a outra. Esses recursos para a aquisição dos aviões da FAB eram virtuais, só passariam a existir na medida em que houvesse a concorrência. Como essa não vai existir, não tem concorrência, não tem recursos, então, não há do que se falar em transferência deles para outra finalidade.

De outro lado, os recursos para o combate à fome, em número satisfatório, já constam no Orçamento da Nação e já têm o instrumental jurídico que elevam a existência desses valores e passam deles a se utilizar.

Queira Deus, que o Presidente Lula o faça e, se o fizer, terá o nosso aplauso. Caso contrário, a pirotecnia essa de atirar fogos de artifícios para chamar a atenção da Nação, continuará sendo um embuste lamentável sobre o qual teremos que protestar. Até numa ação cujo nome eu nem sei dizer direito, tamanho o rechaço que tenho por essa idéia. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): O Ver. Sebastião Melo está com a palavra em Comunicações.

 

O SR. SEBASTIÃO MELO: Sr. Presidente, Ver. João Antonio Dib, colegas Vereadores, colegas Vereadoras, senhoras e senhores. Nós queremos aqui neste espaço de Sessão Representativa, Ver. Reginaldo Pujol, fazer uma breve análise daquilo que, até este momento, nós, que assumimos o Governo do Estado, que ainda estamo-nos apropriando dos dados, fazer uma avaliação preliminar de como encontramos o nosso Rio Grande. Primeiro, é preciso dizer que o Rio Grande, apesar de o Governo, que hora terminou - na nossa avaliação -, fez uma gestão muito temerária em várias áreas, ele vai bem, os gaúchos vão bem, a economia aqui cresceu mais do que nos outros Estados, mas o desmando na máquina pública do Governo que se encerrou precisa, essas instaurações precisam ser socializadas para que a população aproprie-se desses dados, porque quem está assumindo o Governo... Eu não sou a favor de ficar jogando pedra em quem deixou o Governo, mas sou francamente favorável - e tenho defendido isso em todo o coletivo da nossa discussão - que a população saiba exatamente como encontramos o Governo, porque senão, amanhã ou depois, essa mesma população poderá entender que se o Governo que assumiu não fez uma demonstração clara do inventário daquilo que recebeu, Ver. Elói Guimarães, ele poderá dizer que esse inventário é do próprio Governo que hora assume.

E aí é preciso destacar algumas questões: hoje, o rombo do caixa único é de 1 bilhão e 700 milhões de reais. E esse 1 bilhão e 700 milhões de reais, Ver. João Antonio Dib, deve-se a uma gestão – na minha avaliação – temerária, onde se descapitalizou empresas como o BANRISUL, chegando a uma taxa de risco muito complicada; empresa como a CORSAN e empresa como a CEEE, que foram sendo descapitalizadas e colocando dentro do caixa único.

Isso é uma gestão financeira, Ver. Reginaldo Pujol, muito temerária. A herança que nós assumimos é de 1 bilhão e 700 milhões de reais, hoje, de rombo no caixa único.

Mas se não bastasse descapitalizar essas empresas, Ver. Reginaldo Pujol, V. Ex.ª que conhece muito bem a CEEE, o Governo começou a vender ativo, ou seja, a sua dívida ativa foi levada ao sistema financeiro, em determinados momentos, para poder fazer pagamentos. Portanto, vendeu muito abaixo daquilo que era dívida ativa em muitas ocasiões, se não bastasse a farra com as empresas estatais.

Mas o governo foi mais além, Ver. Reginaldo Pujol, antecipou receitas que é do nosso Governo. Nós, que assumimos o Governo agora, temos de pagar aquilo que o Governo já antecipou na praça de ICMS para poder honrar os compromissos com os funcionários públicos. Então, a população tem de saber disso.

Ontem, conversando com o Diretor da SUSEPE, Dr. Djalma Galtério, ele me disse: “Melo, nós estamos à beira de não ter dinheiro para comprar pão para os presidiários”. Comida! Porque os fornecedores estão com quatro, seis meses de atraso e não vão vender. Vou ao Secretário da Saúde, Sr. Osmar Terra, que ontem, felizmente, lá em Santa Maria, conseguiu botar fim à greve, porque os funcionários do Pronto Socorro Regional não recebiam há muito tempo e ele dizia que não há dinheiro para remédios e as pessoas estão batendo à porta dos postos da Secretaria da Saúde e não têm dinheiro para remédio! Essa é uma dura realidade! Alguém há de dizer: as finanças do Rio Grande não são um problema só do Governo passado, mas elas arruinaram muito com o Governo que ora se findou.

Essa é uma realidade que tem de ser socializada, porque não é possível, Ver. João Antonio Dib, três mil celulares à boca livre para fazer campanha, isso não está correto! O servidor público que, em nome do povo, vai servir, especialmente na área de segurança, acho que tem de ter, sim, o celular, como em outras áreas, mas à boca livre, não! Não foi para isso que se elegeu um Governo que se dizia transparente. Imaginem os senhores, o cidadão com um celular podendo gastar um, dois, três mil, não interessa, não é ele quem paga a conta, pode gastar o infinito. Isso não está correto! E mais caro para um Governo, que sempre teve como eixo, como norte um discurso fantástico de dizer da ética, da transparência na vida pública! Presidente Lula, não siga o caminho do Governador Olívio Dutra. As coisas por aqui não foram bem!

Mas vou mais além: além de tudo que disse, há a dívida com a União, duas parcelas atrasadas e, portanto, se o Governo não tomar providências, os recursos da União não serão repassados. Essa é a dura realidade do Rio Grande, como disse antes, que vai bem, que tem uma economia pujante, que teve um crescimento de 11%, que tem um povo extraordinário; mas a máquina pública está liquidada! Nós temos de enfrentar essas questões. Primeiro, há algumas questões para mudança aqui no Estado que dependem, para qualquer Governo, para qualquer Estado federado, de mudanças em nível constitucional: reforma Previdenciária. Não dá mais. O Governo que saiu tinha condições de fazer e não fez, e tinha maioria no Congresso Nacional. E nós sempre cobramos isso. Mas o Governo que hoje se constitui parece que faz uma maioria mais expressiva do que Fernando Henrique, e, portanto, tem condições objetivas de fazê-la. A reforma tributária tem de ser feita para desonerar quem produz. Neste País, especulador não paga imposto! Banqueiro não paga imposto! Grandes proprietários de terras não pagam impostos! Mas o setor produtivo está absolutamente onerado e, de tudo o que se paga neste País, 34% vão para os cofres públicos nas suas mais diversas taxas e impostos. Isso é uma carga tributária enorme, maluca, pelo retorno que esses tributos trazem ao cidadão, porque, quando o cidadão paga o tributo e sente que o posto funciona, que a estrada não está esburacada, que nas prateleiras têm remédios, que a prestação de serviço dá o retorno e que o cidadão pode buscar o emprego, ele se sente feliz em pagar o imposto. Mas, quando ele paga o imposto e a mazela continua, como no nosso País, onde 10% tem um poder econômico fantástico e a maioria da massa trabalhadora vive no comércio informal ou com salários míseros, tanto na vida pública como na vida privada...

É tempo de esperança e mudança. O ano se renova, e, talvez, o espírito daquele que criou o calendário anual foi no sentido de que cada ano renovam-se as esperanças, porque sem esperança não há como caminhar, não há como avançar. Avante! Nós temos uma tarefa muito grande aqui no Estado. Com certeza, o Presidente também herda um fardo pesado, mas nós queremos dizer que o discurso do Governo que saiu foi um; a prática foi outra. A prática foi de fazer orgia, muitas vezes, com o dinheiro público, viagens, recepções oficiais, celulares, acima daquilo que se permite na boa gestão republicana. E a população do Rio Grande do Sul precisa ser informada disso, porque essa é a responsabilidade sem raiva, sem gritaria. Mas o Governo que assume tem obrigação de informar, porque essa é a herança que assumimos no Estado. Este ano não se vai poder investir absolutamente em nada! Temos de cortar a própria carne para conseguirmos governar essa máquina pública, e aí, sim, talvez, no próximo ano, possamos avançar em alguns projetos em nível internacional ou com outras verbas, porque, em nível de arrecadação local, a coisa está muito difícil e séria. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Antonio Dib): Visivelmente não há quórum para ingressarmos na Ordem do Dia. Encerro os trabalhos da presente Sessão, convocando os Vereadores para a Sessão da Comissão Representativa na próxima quarta-feira, às 9h30min, ao mesmo tempo em que, ao término da Reunião da próxima quarta-feira, convoco a Mesa Diretora para analisar problemas que já estão sendo aguardados, para que tenhamos soluções prontamente. Saúde e paz.

 

(Encerra-se a Reunião às 11h15min.)

 

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